segunda-feira, 17 de julho de 2017

CORAGEM: UMA PALAVRA QUE PERCORREU PELAS VEIAS DE PAULO PARA PROSSEGUIR!

CORAGEM: Deus sempre anima os seus escolhidos
Atos 23:11

No capítulo 21 de Atos, Paulo está de malas prontas para viajar a Jerusalém. Será a última vez que Paulo colocará os pés na cidade de Davi.

Embora um dos propósitos da sua viagem seja levar uma oferta colhida entre os crentes gentios para os crentes judeus, ele sabe que as curvas do futuro lhe reservam cadeias e tribulações.

Paulo não nutre esperanças falsas; sabe que será preso. Não caminha em direção dos holofotes, mas rumo à prisão e à morte. Paulo chega a pedir oração à igreja de Roma para não ser morto pelos rebeldes judeus nessa arriscada viagem à Jerusalém (Rm. 15:30,31).

No capítulo 21.1-6, Paulo zarpou de Mileto, porto nas proximidades de Éfeso, viajou até Cós, pequena ilha ao sul de Mileto; no dia seguinte, partiu para Rodes, ilha maior a sudeste, e, dali seguiu para Pátara, a leste de Rodes (At. 21.1). Prosseguiu viagem de Pátara para Fenícia, numa longa viagem de 650 km (At. 21.2), bordejando a ilha de Chipre e navegando direto para Tiro, onde o navio deveria ser descarregado.

Em Tiro, recebeu uma profecia, alertando-o a não ir à Jerusalém (At. 21.4).

Após uma semana entre os  crentes de Tiro, Paulo se despediu em clima de profunda emoção e cordialidade, prosseguindo sua viagem a Jerusalém (At. 21.5-6).

No capítulo 21.7-16, após Paulo deixar a cidade de Tiro rumo a Cesareia, Paulo chegou a Ptolomeia, onde saudou os irmãos, permanecendo com eles por um dia (At. 21.7)

Enquanto Paulo estava em Cesareia, Ágapo, conhecido profeta, desceu da Judeia e profetizou a prisão de Paulo em Jerusalém, acrescentando que os judeus o entregariam nas mãos dos gentios (At. 21.10-11).

Paulo rejeitou abertamente o pedido dos discípulos e seguiu resoluto para Jerusalém, mesmo sabendo que acabaria sendo preso.

Assim como os cristãos de Tiro, os cristãos de Cesareia imploraram a Paulo que não fosse a Jerusalém. Tanto a equipe que o acompanhava Paulo como os discípulos de Cesareia tentaram demover o apóstolo de ir a Jerusalém, mas este os calou e respondeu com firmeza: Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus (At. 21.13).

Quando Paulo chega em Jerusalém, aconteceram 4 grandes fatores importantes em sua estada:

1)      Paulo teve uma acolhida acalorosa; Paulo foi acolhido pelos irmãos com alegria.
2)      Paulo encontrou-se com Tiago, o líder da igreja, ocasião em que os presbíteros se reuniram para ouvirem o apóstolo.
3)      Paulo relata minuciosamente os testemunhos que o Senhor fizera por seu intermédio.
4)      Tiago estava preocupado com Paulo. Havia boatos que Paulo ensinava os crentes judeus a apostatarem de Moisés, deixando de circuncidar seus filhos e de obedecer a Lei.

Era Festa de Pentecostes, e havia milhares de judeus em Jerusalém de todas as partes do mundo. Os judeus incrédulos vindos da Ásia, ao verem Paulo no templo, movidos pelo preconceito inflexível e pela violência fanática, numa atitude completamente diferente dos líderes da igreja de Jerusalém, alvoraçaram o povo e prenderam Paulo com violência.

Sobre a prisão de Paulo:
      a)      Os judeus foram grandes adversários de Paulo e os grandes opositores do evangelho. Essa é a principal tese de Lucas no Livro de Atos (4.1-5.42; 7.54-60; 8.1-4; 9.23-25; 21.27-36; 23.12-21). Foram os judeus que provocaram tumultos e agora mais uma vez alvoroçam a multidão. Nesse clima de motim, os judeus agarraram e prenderam Paulo.

      b)      Acusação falsa.
Os judeus espalharam boatos sobre Paulo.

      c)       Antes de investigar a veracidade das acusações e antes de oferecer ao acusado chance de defesa, os judeus deliberaram mata-lo.
A multidão gritava para o matar!

      d)      O comandante Cláudio Lísias foi informado do motim.
Os judeus cessaram de espancar Paulo quando o comandante mandou acorrenta-lo, para saber quem era o que o havia feito prisioneiro.

Por essa razão, o comandante mandou recolher Paulo à fortaleza para não ser despedaçado pela multidão que clamava por sua morte.

Ao ser levado para a fortaleza, Paulo pede permissão para falar à multidão amotinada. O comandante pensou que Paulo fosse o egípcio que havia aliciado quatro mil sicários e Paulo responde declarando ser um judeu natural de Tarso, importante província do Império. A multidão silencia, e Paulo dirige-se a seu povo em língua hebraica.

Em sua defesa para com a multidão, Paulo,

        A)     Conta sua história anterior à conversão;
        B)      Conta como foi a sua conversão;
        C)      Fala sobre o projeto de Deus em sua vida após a conversão;
        D)     Diz como lutou com Deus para aceitar o seu ministério.

Os judeus o ouviram até o momento em que ele testemunhou seu chamado para anunciar o evangelho aos gentios. A partir de então, passaram a gritar: Tira tal homem da terra, porque não convém que ele viva (At. 22.22).

O sinédrio é convocado, e Paulo se apresenta aos 71 membros do supremo tribunal dos judeus. O sinédrio era responsável por interpretar a lei judaica às questões de sua nação e levar a julgamento os que a transgridem.

Após o confronto entre Paulo e Ananias, e a acalorada discussão entre os fariseus e saduceus, o clima ficou extremamente tenso. Paulo estava numa espécie de beco sem saída. As esperanças eram mínimas. Nesse momento de angústia, o próprio Senhor Jesus apareceu a Paulo na prisão e lhe disse: ... Coragem! Pois de modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que também faças em Roma (At. 23.11).

A mensagem do Senhor a Paulo foi de encorajamento, aprovação e confirmação.

Destacamos 3 importantes pontos:

      1)      O DEUS QUE ACOMPANHA
Naquela noite fatídica, o próprio Deus se colocou ao lado de Paulo. Lucas registra assim: Na noite seguinte, o Senhor, pondo-se ao lado dele... Na hora mais escura, Deus se apresentou junto ao seu arauto. O maior encorajamento que Paulo recebeu para prosseguir foi a presença do próprio Jesus.

      2)      O DEUS QUE O ENCORAJA
Naquele momento de desânimo, Deus disse a Paulo: Coragem!... O encorajamento não vem dos homens, mas de Deus. Não brota da terra, mas do céu. Não emana das circunstâncias, mas da Palavra do Deus vivo.

      3)      O DEUS QUE O COMISSIONA
O destino de Paulo não estava nas mãos dos judeus ou dos romanos, mas estava nas mãos do Deus vivo. Nenhuma força da terra poderia colocar um ponto final no ministério de Paulo. Era vontade de Deus que Paulo fosse a Roma.

As situações nos desanimam, e nos levam a desistir pelo caminho, Paulo, aos olhos carnais teria todo o direito de ficar desanimado, pois:

a)      Teve que descer por um cesto, pela janela de uma muralha;
b)      É expulso em Antioquia;
c)       Em Listra, é perseguido e apedrejado, lançado para fora da cidade e dado como morto;
d)      Na Macedônia, é chicoteado e aprisionado;
e)      Em Tessalônica é obrigado a fugir;
f)       Em Éfeso, incitaram grandes tumultos contra ele;
g)      Sofreu um naufrágio em Mileto;
h)      Em Malta é picado por uma cobra.

Parece que a vida havia amaçado Paulo feito um rolo compressor.

Deus é fiel e não deixa nenhum dos seus perdidos e desamparados.

O simples fato de Deus dizer “Coragem”, foi o combustível necessário para Paulo não desistir da sua caminhada.

Deus sempre tem algo encorajador para os seus filhos. Esse algo está em sua Palavra.

É por meio da Palavra de Deus que os seus servos encontram forças para continuar sua jornada.

Se você estiver atento e não desviar a sua atenção para as circunstâncias, com certeza ouvirá palavras de ânimo e certeza de que não está só.


Bastou apenas uma única palavra para Paulo buscar forças de onde não tinha: CORAGEM!

quinta-feira, 13 de julho de 2017

O ESCÂNDALO DA GRAÇA

Por que Deus escolheria Jacó, o enganador, em vez do respeitoso Esaú? Porque conferir poderes sobrenaturais de força a um mozartino chamado Sansão? Por que preparar um pastorzinho nanico, Davi, para ser o rei de Israel? Na verdade, em cada uma dessas histórias do Antigo Testamento, os escândalo da graça ressoa sob a superfície até que, finalmente, nas parábolas de Jesus, ela explode em uma dramática sublevação para reformar a perspectiva moral.
A parábola de Jesus sobre os trabalhadores e o pagamento injusto que receberam mostra claramente esse escândalo. Em uma versão judaica contemporânea da história, os trabalhadores contratados à tarde trabalharam tanto que o empregador, impressionado, decide recompensá-los com o salário de um dia. Não foi assim na versão de Jesus, que salienta que o último grupo de trabalhadores esteve negligente sem atividade no mercado, coisa que apenas trabalhadores preguiçosos e incapazes poderiam estar fazendo durante a colheita. Além do mais, os folgados nada fizeram para destacar-se, e os outros trabalhadores ficaram escandalizados com o pagamento que receberam. Que empregador, em seu juízo perfeito, pagaria por uma hora de trabalho a mesma quantia que pagou por doze?

A história de Jesus não faz sentido do ponto de vista econômico, e essa foi a sua intenção. Ele estava oferecendo-nos uma parábola a respeito da graça, que não pode ser calculada como o salário de um dia. A graça não está relacionada com acabar primeiro ou depois; trata de não levar em conta. Recebemos a graça como um dom de Deus, e não por alguma coisa que nos tenhamos esforçado muito para ganhar.

Philip Yancey - Maravilhosa Graça

sábado, 6 de maio de 2017

SARDES - VIVOS, PORÉM MORTOS!

E ao anjo da igreja que está em Sardes escreve: Isto diz o que tem os sete espíritos de Deus, e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto.
Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam para morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus.
Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei.
Mas também tens em Sardes algumas poucas pessoas que não contaminaram suas vestes, e comigo andarão de branco; porquanto são dignas disso.
O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

     ·      A história da igreja de Sardes tem muito a ver com a história da cidade de Sardes.

     ·     A glória de Sardes estava no seu passado. Sardes foi a capital da Lídia no século VII a.C., viveu seu tempo áureo nos dias do rei Creso. Era uma das cidades mais magníficas do mundo nesse tempo.

    ·  Situada no alto de uma colina, amuralhada e fortificada, sentia-se imbatível e inexpugnável. Seus soldados e habitantes pensavam que jamais cairiam nas mãos dos inimigos. De fato a cidade jamais fora derrotada por um confronto direto. Seus habitantes eram orgulhosos, arrogantes e autoconfiantes.

    ·  Mas a cidade orgulhosa caiu nas mãos do rei Ciro da Pérsia em 529 a.C., quando este cercou a cidade por 14 dias, e quando seus soldados estavam dormindo, ele penetrou com seus soldados por um buraco na muralha, o único lugar vulnerável, e dominou a cidade. Mais tarde, em 218 a.C., Antíoco Epifânio dominou a cidade da mesma forma. Os membros da igreja entenderam claramente o que Jesus estava dizendo, quando afirmou: “Sede vigilantes!... Senão virei como ladrão da noite!”.

    ·  A cidade foi reconstruída no período de Alexandre o Magno e dedicada à deusa Cibele. Essa divindade padroeira era creditada com poder especial de restaurar vida dos mortos.

       ·     No ano 17 d.C., Sardes foi parcialmente destruída por um terremoto e reconstruída pelo imperador Tibério. A cidade tornou-se famosa pelo alto grau de imoralidade que a invadiu e a decadência que a dominou.

      ·   É nesse contexto que vemos JESUS enviando essa carta à igreja. Sardes era uma igreja poderosa, dona de um grande nome. Uma igreja que tinha fama, mas não vida. Tinha performance, mas não integridade. Tinha obras, mas não tinha dignidade.

DIAGNÓSTICO

      ·    As palavras de Jesus à igreja foram mais bombásticas do que o terremoto que destruiu a cidade no ano 17 d.C.

      ·   A igreja tinha adquirido o nome. A fama da igreja era notável. A igreja gozava de grande reputação na cidade. Nenhuma falsa doutrina estava prosperando na comunidade.

      ·   A igreja de Sardes não:

      1)      Abandonou o primeiro amor como a igreja de Éfeso;
      2)      Dava ouvidos aos balaamitas como a igreja de Pérgamo;
      3)      Toleravam a profetiza Jezabel como a igreja de Tiatira;
      4)      Não tinham pouca força como a igreja de Filadélfia;
      5)      Não eram mornos como a igreja de Laodicéia.

    · O diabo não precisou perseguir essa igreja de fora para dentro. Eles estavam sendo mortos e derrotados pelos seus próprios pecados.

       ·    A igreja parecia mais um cemitério espiritual, do que um hospital para os enfermos.

MORTE ESPIRITUAL

       ·    O mundanismo adoece a igreja.

       ·   O pecado mata a vontade de buscar as coisas de Deus.

       ·  O pecado mata os sentimentos mais elevados e petrifica o coração. No começo vêm dúvidas, medo, tristeza, depois a consciência cauteriza.

OS CRENTES NA IGREJA DE SARDES

      ·         Promoviam o próprio nome, não o de Cristo.

      ·         Honravam à Deus com seus lábios, mas o coração estava longe do Senhor (Is 29:13).

      ·         A vida deles estava manchados pelo pecado.

      ·         Cantavam hinos de adoração, mas a mente estava longe do Senhor.

      ·         Pregavam com ardor, mas penas para exibir a sua cultura.

      ·         A maioria dos crentes estava contaminando as suas vestiduras. Isso é o símbolo da corrupção.
  
     ·         Por baixo da aparência piedosa daquela respeitável congregação, havia impureza escondida na vida dos seus membros.

      ·         Aqueles crentes também viviam uma vida moralmente frouxa.

      ·         O mundo estava entrando dentro da igreja de Sardes.

PALAVRAS DE JESUS

      ·         (v.1) Conheço as suas obras: Jesus estava dizendo que, por mais que diziam que a igreja estava viva, Ele, o criador da igreja a encontrava morta.

       ·         (v.2) Sê vigilante (ou “fique atento”): O imperativo de Jesus era para eles acordarem e tomarem uma atitude.

      ·         (v.3a) Lembre-se do que tens recebido e ouvido, obedeça e arrependa-se: A igreja havia se esquecido completamente da Palavra.

       ·         (v.3b) Se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que horas virei sobre ti: Pela soberba e a falta de vigilância, eles caíram nas mãos do rei Ciro da Pérsia em 529 a.C., e mais tarde, em 218 a.C., nas mãos de Antíoco Epifânio. Jesus estava os alertando para não cometerem o mesmo erro.

A CURA PARA UMA IGREJA MORTA

     ·         Voltar para a Palavra. O verdadeiro avivamento tem na Bíblia sua base, fonte, motivação, seu limite e propósito.

      ·         Vigilância espiritual. A igreja precisa ser vigilante contra as ciladas de satanás e contra a tentação do pecado. Os crentes devem fugir de lugares, situações e pessoas que podem ser um laço para os seus pés.
  
      ·         O diabo não atacou a igreja de Sardes com perseguições e nem com heresias, mas a minou com o mundanismo. Os crentes não estão sendo mortos pela espada do mundo, mas pela amizade com o mundo.

       ·         A igreja precisa ouvir a voz de Cristo, pois:

a)      Em Éfeso, a igreja abandonou o primeiro amor, mas ainda tinha aqueles que odiavam as práticas dos nicolaítas;

b)      Em Esmirna, a igreja era pobre materialmente, mas Jesus os via ricos espiritualmente;

c)       Em Pérgamo, a igreja tinha algumas pessoas que se apegavam aos ensinos de Balaaão, mas ainda havia aqueles que não abandonaram a fé em Cristo;

d)      Em Tiatira, a igreja tolerava Jezabel, mas tinha aqueles que estavam fazendo obras maravilhosas;

e)      Em Filadélfia, a igreja tinha pouca força, mas guardava o nome do Senhor;


      ·         Cristo sempre preservará aqueles que andam corretamente na sua vontade.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Salmo 6 - Charles Spurgeon

Título

Este Salmo é comumente conhecido como o primeiro dos Salmo Penitenciais, e certamente sua linguagem assenta-se bem nos lábios de um penitente, pois ele expressa ao mesmo tempo as lágrimas (Salmo 6.3,6,7), a humilhação (6.2,4), e o ódio ao pecado (6.8), que são marcas infalíveis de um espírito contrito quando ele volta-se para Deus. Ó Espírito Santo, gera em nós a genuína contrição da qual não necessitamos nos arrepender.
O Título deste Salmo é: “Ao mestre músico sobre Neginoth com Sheminith , um Salmo de Davi,” isto é, para o mestre músico com instrumentos de cordas, sobre oito, provavelmente uma oitava. Alguns pensam referir-se à clave para baixo ou tenor, que certamente adaptar-se-ia bem a esta lamentosa ode. Mas nós não somos capazes de entender estes antigos termos musicais, e mesmo o termo “Selah,” ainda permanece intraduzível. Esta contudo, não deveria ser uma dificuldade em nosso caminho. Nós provavelmente perderíamos ainda muito pouco por nossa ignorância, e isto poderia servir para confirmar a nossa fé. É uma prova da grande antiguidade deste Salmo que ele contenha palavras cujo significado está perdido mesmo para os melhores eruditos da língua hebraica. Seguramente estas são apenas provas incidentais (eu quase poderia dizer acidentais, se não cresse que elas sejam designadas por Deus), de sua existência, o que eles professam ser, os antigos escritos do Rei Davi dos tempos antigos.

Divisão

Você observará que o Salmo é facilmente divisível em duas partes. Primeiro, há a petição do salmista em sua grande agonia, abrangendo do versículo 1 até o final do versículo 7. Então nós temos, do versículo 8 ao final, um tema completamente diferente. O salmista mudou o seu tom. Ele deixa a clave menor, e coloca-se sob sublime tensão. Ele direciona sua nota para a alta clave da confiança, e declara que Deus ouviu sua oração, e libertou-o de todos os seus problemas.

Salmo 6.1-7

1. Senhor , não me repreendas na tua ira, nem me castigues no teu furor.
2. Tem compaixão de mim, Senhor , por que eu me sinto debilitado; sara-me, Senhor ; porque meus ossos estão abalados.
3. Também a minha alma está profundamente perturbada; mas tu, Senhor , até quando?
4. Volta-te, Senhor , e livra a minha alma; salva-me por tua graça.
5. Pois, na morte, não há recordação de ti; no sepulcro quem te dará louvor?
6. Estou cansado de tanto gemer; todas as noites faço nadar o meu leito, de minhas lágrimas o alago.
7. Meus olhos, de mágoa, se acham amortecidos, envelhecem por causa de todos os meus inimigos.

Tendo lido através da primeira divisão, a fim de vê-la como um todo, nós olharemos, nós a consideraremos agora versículo por versículo.

Salmo 6.1

“Senhor, não me repreendas na tua ira.” O salmista está `plenamente consciente de que merece ser repreendido, e sente, além disso, que a repreensão de uma forma ou outra vem sobre ele, se não para condenação, ainda assim para convicção e santificação. “O milho é limpo com vento, e a alma com castigos.” Era tolice orar contra a mão dourada que enriquece-nos com seus golpes. Ele não pede que a repreensão possa ser totalmente contida, pois ele pode assim perder uma dádiva oculta; mas: “ Senhor, não me repreendas na tua ira.” Se tu lembraste-me de meu pecado, isto é bom, mas, oh, não lembre-me dele como alguém inflamado contra mim, a menos que o coração de teu servo devesse cair em desespero. Assim disse Jeremias: “Corrige-me, ó Senhor, mas com medida justa, não na tua ira, para que não me reduzas a nada.” Eu sei que eu deveria ser punido, e embora eu me esquive de tua vara, ainda assim eu sinto que ela será para meu benefício; mas, oh, meu Deus, “não me castigues no teu furor,” a menos que a vara se torne uma espada, a menos que ferindo, tu devesses também destruir. Então nós podemos orar que as punições de nosso gracioso Deus, se elas não podem ser inteiramente removidas, podem ao menos ser suavizadas pela percepção que são “não em ira, mas em seu amável pacto de amor.”

Salmo 6.2,3

“Tem compaixão de mim, Senhor, por que eu me sinto debilitado.” Embora eu mereça a destruição, permita ainda tua misericórdia apiedar-se de minha fragilidade. Este é o meio correto de suplicar a Deus se desejamos prevalecer. Não apresente sua bondade ou grandeza, mas alegue seu pecado e pequenez. Clame: “Eu estou fraco,” portanto, Senhor, dá-me força e não me venha me abater. Não derrame a fúria de tua tormenta contra um vaso tão fraco. Tempere o vento para o cordeiro tosquiado. Seja terno e compassivo para com uma pobre e murcha flor, e não a quebre de sua haste. Certamente este é o pedido que um homem doente faria para mover a piedade de seu companheiro se ele estivesse se esforçando com ele: “Reparta gentilmente comigo ‘porque eu estou fraco.'” Um senso de pecado tinha assim espoliado o orgulho do salmista, e lançado fora sua exaltada força, que ele achou-se fraco para obedecer a lei, fraco pela aflição em que estava, tão fraco, talvez, para descansar apoiado na promessa. “Eu estou fraco.” O original pode ser lido: “Eu sou alguém que sucumbe,” ou debilitado como uma planta ressecada. Ah! Amado, nós sabemos o que isto significa, porque nós, também, temos visto nossa glória desbotada, e nossa beleza como uma flor murcha.
“Sara-me, Senhor; porque meus ossos estão abalados.” Aqui ele ora por cura , não somente pelo mitigar da doença sofrida, mas por sua inteira remoção, e o curar das feridas que tinham surgido dela. Seus ossos foram “abalados,” como o hebreu o tinha. Seu terror tinha se tornado tão grande que todos seus ossos se agitaram, não somente sua carne tremeu, mas os ossos, os sólidos pilares da virilidade, se fizeram tremer. “Meus ossos estão abalados.” Ah, quando a alma tem um senso de pecado, isto é suficiente para fazer os ossos tremerem; isto é suficiente para fazer os pelos de um homem se ouriçarem ao ver as chamas do inferno abaixo dele, e um Deus irado sobre ele, e perigo e dúvida cercando-o. Bem poderia ele dizer: “Meus ossos estão abalados.” Entretanto, nós deveríamos ao menos imaginar que ele estava simplesmente corporalmente doente – embora corporalmente doente possa ser o sinal exterior – o salmista segue em frente dizendo: “Também a minha alma está profundamente perturbada.” Perturbação da alma e perturbação de toda a alma. Não importa que os ossos tremam se a alma estiver firme, mas quando a própria alma está também muitíssimo abalada, isto é agonia de fato. “mas tu, Senhor, até quando?” Esta sentença termina abruptamente, porque as palavras falham, e o pesar afoga-se no pequeno conforto que amanheceu sobre ele. O salmista, contudo, tinha ainda alguma esperança; mas esta esperança estava somente em seu Deus. Ele portanto clama: “Senhor, até quando?” a vinda de Cristo para o interior da alma em sua túnica sacerdotal de graça é a grande esperança da alma penitente; e , verdadeiramente, de um modo ou outro, o aparecimento de Cristo é, e sempre tem sido, a esperança dos santos.
A exclamação favorita de Calvino era “ Domine usque quo ” – “Senhor, até quando?” Não poderia a sua dor mais aguda, durante uma vida de angústia, forçá-lo a qualquer outra palavra. Seguramente este é o clamor dos santos sob o altar: : Senhor, até quando?” E este deveria ser o clamor dos santos esperando pelas glórias do milênio: “Porque demoram em vir seus carros; Senhor, até quando?” Aqueles de nós que têm passado através da convicção de pecado conheceram o que era contar nossos minutos horas, e nossas horas anos, enquanto a misericórdia demorava em vir. Nós esperávamos pelo alvorecer da graça, como aqueles que esperam pela manhã. Ardentemente nosso espírito pediu: “Ó Senhor até quando?”

Salmo 6.4

“ Volta-te, Senhor, e livra a minha alma.” Como a ausência de Deus foi a principal causa de sua miséria, assim o seu retorno seria suficiente para livra-lo do seu problema. “Oh salva-me por causa das tuas misericórdias.” Ele sabe onde olhar, e sobre qual braço descansar. Ele não descansa sobre a mão esquerda da justiça de Deus, mas sobre sua destra de misericórdia. Ele conhecia sua iniqüidade muito bem para pensar em mérito, ou implorar por para qualquer coisa além da graça de Deus.
“Por causa das tuas misericórdias.” Que pedido! O quanto ele é valioso para com Deus! Se nós nos voltamos para a justiça, que pedido podemos fazer? Mas se nós nos voltamos para a misericórdia , nós podemos ainda clamar, apesar da grandeza de nossa culpa: “Salva-me por causa de tuas misericórdias.”
Observe quão freqüentemente Davi implora pelo nome de Jehovah, que sempre é pretendido onde a palavra Senhor é escrita com letras maiúsculas. Aqui nós a encontramos cinco vezes em quatro versículos. Não é esta a prova de que o glorioso nome é tomado para consolação para os santos tentados? Eternidade, Infinitude, Imutabilidade, Auto-existência, tudo está no nome de Jehovah, e tudo isto está repleto de conforto.

Salmo 6.5

Agora Davi está em grande temor de morte – morte temporal, e talvez, morte eterna. Leia a passagem como você desejar; o versículo seguinte está cheio de poder: “Pois, na morte, não há recordação de ti; no sepulcro quem te dará louvor?” Os cemitérios das igrejas são lugares silenciosos; a abóbada dos sepulcros não ecoam sons. Terra úmida cobre bocas mudas. “Ó Senhor?” diz ele, “se tiveres misericórdia de mim eu o louvarei. Se eu morrer, então o meu mortal louvor deverá ser suspenso, e eu perecer no inferno, então tu não terás de mim qualquer gratidão. Melodias de gratidão não podem erguer-se do flamejante fosso do inferno. Na verdade tu, indubitavelmente, serás glorificado, mesmo com minha eterna condenação, mas então, Senhor, eu não poderei glorificar-te voluntariamente; e entre os filhos dos homens, haverá um coração a menos para bendizer-te.” Ah! Pobres e vacilantes pecadores, possa o Senhor ajuda-los a usar este impetuoso argumento. É para a glória de Deus que um pecador deveria ser salvo. Quando nós buscamos perdão, nós não estamos pedindo a Deus para fazer aquilo que irá sujar seu estandarte, ou colocar uma mancha em seu brasão. Ele deleita-se em misericórdia. É seu atributo peculiar, favorito. Misericórdia honra a Deus. Não somos nós mesmos que dizemos: “A misericórdia abençoa aquele que dá, e aquele que recebe?” E seguramente, em algum senso mais divino, esta é verdade de Deus, que, quando ele concede misericórdia, glorifica a si mesmo.

Salmo 6.6,7

O salmista dá uma terrível descrição de sua longa agonia: “Estou cansado de tanto gemer.” Ele tinha gemido até que sua garganta estivesse rouca; ele tinha clamado pela misericórdia até a oração tornar-se difícil. O povo de Deus pode gemer, mas não pode resmungar. Sim, eles devem gemer, estando sobrecarregados, ou eles nunca bradarão no dia da libertação. A próxima sentença, nós pensamos, não está corretamente traduzida. Ela deveria ser: “Eu farei minha cama nadar todas as noites,” (quando a natureza necessita descansar, e quando eu estou mais a sós com Deus). Isto é dizer, minha tristeza, agora mesmo, é terrível, mas se Deus não salvar-me logo, ela não permanecerá assim, mas aumentará, até minhas lágrimas serem tantas, que minha própria cama nadará nelas. Uma descrição mais daquilo que ele temia acontecer, do que daquilo que tinha realmente ocorrido. Não podem nossos maus pressentimento de um futuro infortúnio tornarem-se argumentos que encorajam a fé quando buscamos pela misericórdia no presente? “Eu alago o meu leito com minhas lágrimas. Meus olhos, de mágoa, se acham amortecidos, envelhecem por causa de todos os meus inimigos.” Como os olhos de um velho homem tornam-se turvos com os anos, assim diz Davi, meus olhos têm-se tornado vermelhos e débeis pelo lacrimejar. A convicção às vezes tem tal efeito sobre o corpo, que até mesmo os órgãos exteriores são feitos sofrer. Não pode isto explicar algumas das convulsões e ataques histéricos que têm sido experimentados sob a convicção nos avivamentos na Irlanda? É surpreendente que alguns devam ser lançados em terra, e comecem a chorar em alta voz, quando nós encontramos o próprio Davi fez sua cama nadar, e envelheceu enquanto ele estava sob a pesada mão de Deus? Ah! Irmãos, não é algo luminoso alguém sentir-se um pecador, condenado à separação de Deus. A linguagem deste Salmo não é imposta nem forçada, mas perfeitamente natural para alguém em tal tristeza e dificuldade.

Salmo 6.8-10

8. Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniqüidade, porque o Senhor ouviu a voz do meu lamento;
9. O Senhor ouviu a minha súplica; o Senhor acolhe a minha oração.
10. Envergonhem-se e sejam sobremodo perturbados todos os meus inimigos; retirem-se, de súbito, cobertos de vexame.

Salmo 6.8

Até aqui tudo tinha sido tristeza e desconsolo, mas agora –
“Vossas harpas, vós santos tementes
Tirai-as dos salgueiros”
Vós deveis ter vossos tempos de lamento, mas, sejam eles curtos. Levantai-vos, levantai-vos, de vosso monturo! Abandone sua roupas de saco e cinzas! O lamento pode durar por uma noite, mas a alegria vem pela manhã
Davi achou paz, e erguendo-se de seus joelhos começou a varrer todo o mal de sua casa. “Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniqüidade.” O melhor remédio contra um homem mau é uma longa distância entre nós e ele. “Vá embora; eu não posso ter comunhão contigo.” O arrependimento é uma coisa útil. Não é suficiente lamentar a profanação do templo do coração, nós devemos escorraçar os compradores e vendedores, e derrubar as mesas dos cambistas. Um pecador perdoado odiará os pecados que custaram ao Salvador o seu sangue. Graça e pecado são contenciosos vizinhos, e um ou outro deverá ser derrotado.
“Porque o Senhor ouviu a voz do meu lamento,” Que fino hebraísmo, e que grande poesia é em inglês! “Ele ouviu a voz do meu lamento.” Há uma voz no lamento? O lamento fala? Em qual linguagem expressa o seu significado? Por que, nesta língua universal, que é conhecida e entendida em toda a terra, e mesmo acima, no céu. Quando um homem lamenta, seja ele judeu ou gentio, bárbaro, cita, servo ou livre, o significado é o mesmo. O lamento é a eloqüência do sofrimento. Ele é um fluente orador, não necessitado de interprete, mas entendido por todos. Não é maravilhoso crer que nossas lágrimas são entendidas mesmo quando nossas palavra falham. Aprendamos a pensar de nossas lágrimas como orações líquidas, e do lamento como um constante gotejar da impertinente intercessão que certamente mostrará sua reta direção dentro do genuíno coração de misericórdia, a despeito das pedregosas dificuldades que obstruem este caminho. Meu Deus, eu “lamentarei” quando eu não puder rogar, porque tu ouves a voz do meu lamento.

Salmo 6.9

“O Senhor ouviu a minha súplica.” O Espírito Santo tinha trabalhado dentro da mente do salmista a confiança que sua oração foi ouvida. Este é freqüentemente o privilégio dos santos. Orando a oração da fé, eles são geralmente assegurados que têm prevalecido com Deus. Nós lemos de Lutero que, tendo em uma ocasião batalhado duramente com Deus em oração, ele saiu pulando de sua câmara gritando, “ Vicimus, vicimus, ” isto é, “Nós conquistamos, nós prevalecemos com Deus.” Firme confiança não é sonho vazio, pois quando o Espírito Santo no-la concede, nós conhecemos sua realidade, e não podemos duvidar, mesmo que todos os homens ridicularizem nossa ousadia.

Salmo 6.10

“Envergonhem-se e sejam sobremodo perturbados todos os meus inimigos.” Isto é mais uma profecia do que uma imprecação, ela pode ser lida no futuro. “Todos os meus inimigos serão envergonhados e sobremodo perturbados.” Eles se retirarão, de súbito, cobertos de vexame, – num momento – sua maldição virá sobre eles repentinamente. O dia da condenação é o dia da maldição, a ambos são certos e podem ser repentinos. Os romanos costumavam dizer: “os pés da Deidade vingadora são calçados com pelos.” Com passos silenciosos a vingança se aproxima de sua vítima, e repentina e esmagador será seu ataque destruidor. Se isto fosse uma imprecação, nós deveríamos lembrar que a linguagem da antiga dispensação não é a mesma da Nova. Nós oramos por nossos inimigos, não contra eles. Deus tenha misericórdia deles, e traga-os para o caminho reto.
Assim o Salmo, como aquele que o precede, mostra as diferentes situações do justo e do ímpio. Ó Senhor, faça-nos ser numerados com o teu povo, agora e para sempre!


Fonte: O texto acima traduzido são excertos do comentário do Salmo 6, do livro Treasury of David, no qual Spurgeon comentou todos os salmos e reuniu diversos e excelentes comentários de outros comentaristas, teólogos e pastores.