domingo, 13 de dezembro de 2015

A MORTE DA RAZÃO

O livro A morte da Razão – Francis Schaeffer, nos trás um ensinamento que para nós no século XXI, as pessoas continuam buscando sobreviver psicologicamente, valorizando a emoção e a experiência, em virtude de uma inaptidão mental. O mundo de hoje conhece bastante, comunica-se muito, porém, relaciona-se pouco e infelizmente, reflete e compreende pouquíssimo. Entre outras palavras, as coisas de hoje não precisam ter significado, basta apenas ter função estética e emocional. Na nota do editor, Schaeffer faz uma comparação com a sociedade atual com a maneira de usar uma calça jeans. A calça jeans rasgada era usada no passado como uma forma de protesto contra a sociedade comunista (por parte dos integrantes do movimento punk). Com o passar do tempo, essa idéia de calça rasgada foi acatada pela indústria cultural e de consumo, passando a ser um padrão estético. Essa maneira de usar calça jeans rasgada atualmente de “forma não pensada”, é explicada por Schaeffer como “morte da razão”.
A Igreja Cristã tem como sua responsabilidade não apenas conhecer os princípios básicos da sua fé à luz das escrituras, mas de aplicar esses princípios à realidade da geração que se encontra em seu presente século.
Schaeffer diz que a origem do homem moderno pode ser atribuída em diversos períodos, mas o seu ponto de partida foi Tomás de Aquino (1225-1274), através da discussão entre “natureza e graça”. Antes de Tomás de Aquino, dava-se fortíssima ênfase às coisas celestes, representadas por símbolos, com pouco interesse na natureza como tal. Segundo Schaeffer, desde os tempos de Tomás de Aquino, e por muitos anos a seguir, houve empenho constante em estabelecer uma unidade da graça e da natureza, bem como a esperança de que a racionalidade tinha de dizer algo a respeito de uma e de outra. Do ponto de vista bíblico, a natureza é importante porque foi criada por Deus; por isso, não deve ser menosprezada do mesmo modo, não devem ser menosprezadas as coisas do corpo, quando comparadas às da alma. Se olharmos para esse pensamento entre natureza e graça e, desprezarmos um e passarmos a dar mais importância ao outro, estaríamos desprezando a Deus que o criou.
Para Schaeffer a vontade humana está caída e não seu intelecto. O intelecto humano tornou-se autônomo. No ponto de vista bíblico, Tomás de Aquino explica que esse resultado traz uma espécie de teologia natural. Mas o que seria essa teologia natura? Teologia natural é uma teologia que pode ser formulada independentemente das Escrituras. Com base nesse princípio, a filosofia também tornou-se livre e separou-se da revelação. Portanto, a filosofia começou a criar asas e passou a voar para onde queria deixando à margem as Escrituras. A associação entre teologia, filosofia e arte emergiu de diversas maneiras após Tomás de Aquino.
Essa tendência também passou a ser adotada através da arte. Schaeffer menciona alguns artistas como Cimabue (1240-1302), mestre de Giotto (1267-1337). Esses artistas passaram a pintar natureza como natureza, em vez de mencionar os motivos da arte e também passaram a pintar como espécie de símbolos, ou seja, essa obra representa tal coisa.
O princípio vital a se notar segundo Schaeffer era que à medida que a natureza se fazia autônoma, passava a “devorar” a graça. A natureza libertou-se de Deus à medida que os filósofos humanistas começaram a operar cada vez mais à vontade. Quando a renascença chegou ao seu clímax, a natureza havia devorado a graça. Quanto ao problema da unidade, a reforma deu resposta totalmente oposta à da Renascença. Mas qual foi a resposta que a Reforma então deu? A Reforma sustentou que a raiz da dificuldade brotava do velho e crescente Humanismo cultivado na Igreja Católica Romana e do conceito incompleto de Queda na teologia de Tomás de Aquino, que contemplava o homem como autônomo, livre. A reforma aceitou a noção bíblica de uma Queda total, absoluta e o homem em sua totalidade era obra de Deus, mas que agora é decaído em toda a sua natureza. Já que a teologia natural diz que não precisamos das escrituras, na Reforma o conhecimento final residia na Bíblia. Referente a salvação, Schaeffer diz que não existia nenhuma idéia que o homem fosse autônomo na área da Salvação, uma vez que, somos salvos com base na obra consumada de Cristo, quando morreu no espaço e no tempo na história, e o único meio de se obter a salvação é elevar as mãos vazias da fé e, pela graça de Deus, aceitar o dom gratuito de Deus – a fé somente. Essa resposta da Reforma nos mostra que não existe divisão entre as duas áreas. Não há divisão no conhecimento normativo final – por um lado, entre o que a Igreja ou a teologia natural diriam e o que a Bíblia afirma; nem, por outro lado, entre o que a Bíblia e os pensadores racionalistas categorizariam. A bíblia oferece a chave para dois tipos de conhecimentos: o conhecimento de Deus e o conhecimento do homem e da natureza. O que Deus revelou a seu respeito e o que o homem pode saber de si mesmo estão escritos nas Escrituras. Entre outras coisas, conhecemos sua origem e quem o homem é – criado a imagem de Deus. O homem é maravilhoso não apenas quando é “nascido de novo” como cristão, mas também pelo fato de Deus tê-lo feito à sua própria imagem. O homem tem valor e dignidade em função daquilo que foi originalmente, antes da Queda. A Bíblia diz que você é maravilhoso porque é feito à imagem de Deus e degradado porque, em um determinado ponto no espaço e no tempo da história, o ser humano caiu. O que a Reforma nos diz, então, é que Deus falou nas Escrituras tanto sobre o “andar de cima” quanto no “andar de baixo”. O ensino bíblico também se opõe ao platônico, segundo o qual a alma é muito mais importante, e que o corpo é menos importante.
A ciência exerceu papel de grande destaque na situação em termos delineado. J. Robert Oppenheimer, apesar de não ser cristão, afirmou que o Cristianismo era necessário para o começo da ciência moderna, pelo simples fato que o Cristianismo colocou o homem em posição de investigar a forma do Universo. Jean-Paul Sartre (1950-1980) afirmou que a grande questão filosófica é que algo existe e não que nada existe. Não importa o que o homem pensa, ele tem que se haver com o fato e o problema de que há algo que realmente existe. O Cristianismo oferece uma explicação do porquê dessa existência objetiva. Em outras palavras, para Schaeffer algo existe realmente, para se pensar, com que tratar e para investigar, revestido de uma realidade objetiva. Os primeiros cientistas tiveram a mesmas perspectivas geral de Francis Bacon: “O homem, pela Queda, decaiu ao mesmo tempo do estado de inocência e do domínio sobre a natureza. Ambas as perdas, entretanto, podem ser reparadas em parte mesmo nesta vida – a primeira, pela religião e pela fé; a segunda, pelas artes e pelas ciências”.
Após o período Renascença-Reforma, o estágio crucial imediato foi atingido na época de Kant (1724-1804) e Rousseau (1712-1778). A ciência naturalista torna-se muito grande – um inimigo esmagador. Começa-se a perder a liberdade. Daí, os homens que ainda não são realmente modernos e, por isso, ainda não aceitaram o fato de que são meras máquinas, começaram a abominar a ciência. Anseiam por liberdade, ainda que essa liberdade não se revisa de real sentido, e assim a liberdade autônoma e a máquina autônoma se defrontam, face a face.
Que é a liberdade autônoma? É a liberdade em que o indivíduo é o centro do universo. Liberdade autônoma é a liberdade sem restrições. Para a formação do homem moderno, até essa data, as escolas de filosofia do Ocidente, a partir da era dos gregos, tinham três princípios: o primeiro é que eram todas racionalistas. O Segundo, todos criam no racional. O terceiro era o que sempre sonharam os pensadores, construir um todo unificado de conhecimento.
Os cientistas dos primórdios criaram na uniformidade das causas naturais. O que eles não aceitavam era a uniformidade das causas naturais em um sistema fechado. Essa pequena expressão faz, entretanto, uma diferença enorme – diferença entre a ciência natural e uma ciência que tem suas raízes na filosofia naturalista. Faz toda a diferença no que eu chamo de ciência moderna e o que eu chamo de moderna na ciência moderna. É importante enfatizar que isso não é uma falha na ciência como ciência. Antes, é devido ao fato de a uniformidade das causas naturais em um sistema fechado ter-se tornado filosofia dominante entre os cientistas.
Leonardo da Vinci compreendeu o rumo que as coisas estavam tomando. Como vimos, ele percebeu que se começarmos racionalisticamente com a matemática, tudo o que se alcançará são particulares, e então veremos tudo reduzido à expressão da mecânica. Tendo compreendido isto, ele se apegou à busca do universal. Entretanto, na fase em que chegamos agora em nosso estudo, o “andar inferior” autônomo devorou inteiramente o “andar superior”. Os modernos cientistas modernos insistem na unidade total dos dois andares, com o consequente desaparecimento do andar “superior”. Nem Deus nem liberdade subsistem aí – tudo está na máquina.
Uma coisa para se notar cuidadosamente sobre os homens que tomaram essa decisão – e, com isso, atingimos o tempo presente – é que eles ainda insistem na unidade do conhecimento. Eles ainda seguem o ideal clássico da unidade. Qual, porém, é o resultado desse anseio por um campo unificado? Vemos que eles incluem em seu naturalismo não mais apenas a física; também a psicologia e as ciências sociais estão agora incorporadas à máquina. Eles afirmam que deve haver unidade, não divisão. Entretanto, o único modo de se atingir unidade nessa base é excluindo simplesmente a liberdade. O resultado de se buscar uma unidade com base na uniformidade das causas naturais em um sistema fechado é que não mais existe liberdade. A realidade é que o próprio amor já não existe, o mesmo ocorrendo com o sentido, na velha acepção desejada pelo homem em relação a significado.
A lição é esta: quando se quer fazer tal dualismo e começas a estabelecer uma seção autônoma embaixo, o resultado é que o inferior devora o superior. Isso tem ocorrido, vez após vez, nos últimos séculos. Se tentarmos manter artificialmente as duas áreas separadas e sustentar como autônoma apenas uma delas, logo a autônoma engolirá a outra.
Encontramos também na moderna moralidade moderna, um homem chamado Marquês Sade (1740-1814) que era autor de livros pervertidos. Todos os escritores niilistas “obscuros”, os autores de protestos e revolta, voltavam-se para Sade. Por quê? Não apenas porque ele era um autor pervertido ou porque ensinou esses autores a utilizar a literatura erótica ou sensual como veículo de ideias filosóficas, mas porque, basicamente, era um determinista químico. Sade percebeu a direção em que as coisas estavam tomando e suas conclusões foram: se o homem é determinado, então, o que é, é certo; se a vida como um todo é apenas um mecanismo – se isso é tudo o que há -, então a moral não importa; a moral torna-se apenas uma palavra para designar uma expressão sociológica; ela torna-se apenas um meio de manipulação utilizado pela sociedade no meio da máquina; a essa altura, moral é apenas uma palavra de conotação semântica para os que não tem moral; o que é, é certo.
Antes de Hegel (1779-1831), toda a pesquisa filosófica se havia processado mais ou menos assim: alguém fizera esforços para elaborar um currículo que contivesse o todo do pensamento e da vida; o pensador seguinte disse que essa não era a resposta e que ele próprio formularia a verdadeira expressão que se tinha em vista; então, após este surgiu outro, proclamando: “Meus predecessores falharam, mas eu darei a solução”; o que apareceu depois disse: “Não é assim, de jeito nenhum. A verdade é esta”; e o seguinte exclamou: “Não!”. Não é de estranhar que o estudo da história da filosofia não produza alegria esfuziante!
Partindo de pressupostos racionalistas, nessa época os andares superiores e inferior tinham chegado a um estado de tensão tão grande que se encontravam chegado a um estado de separar grandemente. Kant e Hegel são o portal para o homem moderno.
Que disse Hegel? O pensamento filosófico humanista tentara apegar-se ao racionalismo, à racionalidade e a um campo unificado, mas falhara, não lograra êxito. Logo, concluiu ele, temos de procurar outra maneira de enfrentar o problema. O efeito em longo prazo dessa nova forma de abordagem proposta por Hegel tem sido que os cristãos da atualidade não entendem os seus filhos. O que Hegel mudou foi algo mais profundo do que simplesmente uma resposta filosófica em lugar de outra.
O que Hegel propôs foi o seguinte: Não mais pensemos em termos de antítese; pensemos, antes, em função de tese e antítese, sendo que a resposta constitui sempre uma síntese. Procedendo assim, ele mudou inteiramente a contextura do mundo. A razão por que os cristãos não entendem seus filhos é que estes não mais pensam nos moldes em que pensam seus pais. Não é que eles simplesmente chegam a respostas diferentes. A metodologia se alterou.
É verdade que Hegel geralmente é classificado como um idealista. Ele nutria a esperança de uma síntese que estivesse, de certo modo, alguma relação com a razoabilidade. Entretanto, ele abriu a porta àquilo que é característico do homem moderno. A verdade como tal passou, e a síntese (o tanto-como), com seu relativismo, impera.
A posição básica do homem em rebelião contra Deus é que o homem está no centro do Universo e é autônomo; nisso reside a sua rebeldia. Ele manterá seu racionalismo e sua rebelião, sua inconsistência na autonomia total ou em áreas parcialmente autônomas, mesmo que isso signifique abrir mão da racionalidade.
O personagem que vem depois de Hegel, Kierkegaard (1813-1855), é o real homem moderno, porque aceitou o que Leonardo e os demais haviam rejeitado. Ele abandonou a esperança de um campo unificado do conhecimento.
Kierkgaard trabalha numa linha de pensamento que Schaeffer chama de Desespero. Que Desespero é esse? É a resultante perda da esperança de uma resposta unificada ao conhecimento e a vida. O homem moderno continua a se apegar ao racionalismo e à revolta autônoma que o caracterizam, embora para agir assim ele tenha de abrir mão de qualquer esperança racional de uma resposta unificada. No período precedente, os homens de cultura não desistiam da racionalidade e da esperança de um campo unificado de conhecimento. O homem moderno, porém, abandonou totalmente a esperança da unidade e vive em desespero – o desespero de não mais pensar que aquilo que tem sido sempre a aspiração dos homens seja algum modo possível.
Após Kierkgaard, a situação pode ser resumida no seguinte. Abaixo da linha, há racionalidade e lógica. O andar superior abriga o não lógico e o não racional. Não há relacionamento entre os dois níveis. Em outras palavras, no andar inferior, com base na razão, o homem está morto. O homem não tem significado, não tem propósito, não tem sentido. Há apenas pessimismo quanto ao homem como homem. Mas em cima, com base num salto não racional, não razoável, há uma fé não racional que dá otimismo. Essa é a dicotomia do homem moderno.
Com base em toda razão, o homem é destituído de significado. No que concerne à racionalidade e à lógica, o homem sempre foi morto. Foi uma esperança vã o homem pensar que não estava morto.
É isso que significa dizer que o homem está morto. Não quer dizer que ele vivia e morreu. Ao contrário, ele sempre esteve morto, mas faltava-lhe suficiente conhecimento para se reconhecer morto.
De Kierkegaard, procedem duas extensões: o existencialismo secular e o existencialismo religioso.
O existencialismo secular divide-se em três correntes principais, apresentadas por Jean-Paul Sartre (1905-1980) e Camus (1913-1960), na França; Karl Jaspers (1883-1969), na Suíça, e Heidegger (1889-1976), na Alemanha. Em primeiro lugar, Jean-Paul Sartre. Racionalmente, o universo é absurdo, e o homem deve buscar autenticar-se a si mesmo. Como? Mediante um ato de vontade. A dificuldade, entretanto, é que a autenticação não tem conteúdo racional ou lógico – todas as direções de um ato de vontade são iguais.
Em segundo lugar, Karl Jaspers. Ele é fundamentalmente um psicólogo e fala de uma “experiência final”, isto é, uma experiência de tal modo que proporciona a certeza de que você existe e uma esperança de significado – embora, racionalmente, não lhe seja possível auferir tal esperança. O problema que afeta essa “experiência final” é que, por ser totalmente separa do que é racional, não há meio de comunicar seu conteúdo nem a outra pessoa nem a você mesmo!
Em terceiro lugar, temos o que Heidegeer chama de Angst. Angst não é medo, simplesmente, pois o medo tem um objeto. Angst é um vago senso de temor – a sensação desagradável que se tem quando se entra em uma casa supostamente mal-assombrada. Heidegeer afirmou tudo nessa espécie de ansiedade básica. Portanto, os termos pelos quais se expressa o andar superior não fazem diferença alguma. A base desse sistema reside no salto. A esperança está separada do andar inferior racional.
Os existencialistas apegaram-se mais a um conceito clássico de filosofia, em que lidam com as grandes questões, mas o fazem aceitando inteiramente a dicotomia entre racionalidade e esperança.
O que faz do indivíduo um homem tipicamente moderno é a existência dessa dicotomia, não as múltiplas coisas que, com um saldo, ele coloca no andar superior. Não importa que expressão ele coloque ali, secular ou religiosa; é tudo a mesma coisa, se fundamenta nessa dicotomia. É isso que separa e distingue o homem moderno, por um lado, do homem da Renascença, que alimentava a esperança de uma unidade humanista, e, de outro, do homem da Reforma, que possuía, na realidade, uma unidade racional acima e abaixo da linha baseada no conteúdo da revelação bíblica.
O mesmo quadro geral que emerge o existencialismo secular está presente no sistema de Karl Barth e nas novas teologias que têm projetado e estendido o seu sistema. Não há intercâmbio racional acima e abaixo da linha. Barth admitiu as teorias da Alta Crítica, de sorte que, a seu ver, a Bíblia contém erros, mas a nós cumpre crer nela assim mesmo. A “verdade religiosa” separada e distinta da verdade histórica das Escrituras. Assim, não há lugar para a razão e nem ponto de verificação. Isso constitui o salto em termos religiosos. Tomás de Aquino abriu a porta para o homem independente no andar inferior, para uma teologia natural e uma filosofia que eram autônomas em relação às Escrituras. Isso levou, no pensamento secular, à necessidade de depositar finalmente a esperança toda em um andar superior não racional. De modo semelhante, na teologia neo-ortodoxa resta ao homem a necessidade de dar o salto, porque como homem integral nada se pode fazer na área do racional na busca de Deus. Na teologia neo-ortodoxa o homem é menos do que a criatura decaída do conceito bíblico.
A Nova Teologia parece levar vantagem sobre o existencialismo secular, ao fazer uso das palavras que se revestem de fortes conotações, arraigadas que estão na memória da raça; são termos como “ressurreição”, “crucificação”, “Cristo”, “Jesus”. Essas palavras dão uma ilusão de comunicação. E a importância desses vocábulos para os teólogos novos está exatamente nessa ilusão de haver comunicação, acrescida da reação altamente motivada que os indivíduos demonstram com base na conotação dos termos. Essa é a vantagem da Nova Teologia sobre o existencialismo secular e os modernos misticismos seculares.
Vimos que desde Rousseau se estabeleceu a dicotomia entre natureza e liberdade. A natureza passou a representar o determinismo, a máquina, com o homem na desesperada situação de ser absorvido pela máquina. Então, no andar superior, vemos o homem lutando pela liberdade, que era buscada como absoluta, sem limitações. Não existe Deus, nem mesmo um universal a limitar o homem, de sorte que o indivíduo procura expressar-se com total liberdade; ao mesmo tempo, porém, ele sente a condenação de ser absorvido pela máquina. Essa é a tensão do homem moderno.
O campo da arte oferece vasta variedade de ilustrações dessa tensão, que por sua vez, proporciona uma explicação parcial para o fato curioso de que muito da arte contemporânea, como expressão própria do que é o homem em si mesmo, é feia.
Algumas consequências de se lançar a fé contra a racionalidade em linhas que não refletem a perspectiva bíblica podem ser enunciadas nos termos a seguir.
A primeira consequência é colocar o Cristianismo no andar superior diz respeito à moral. Surge a questão de como estabelecer um relacionamento de um Cristianismo no andar superior em termos de moral na vida cotidiana. A resposta simples é que isso não é possível.
A segunda consequência dessa dissolução é que não se tem uma base adequada para o direito, para a lei. O sistema da Reforma era totalmente calcado no fato de que Deus revelara algo real na própria essência das coisas comuns da vida.
Há duas coisas que precisamos apreender firmemente no esforço de comunicar o evangelho na atualidade, quer estejamos falando a nós mesmos, a outros cristãos ou àqueles que estão totalmente do nosso círculo.
Há certos fatos imutáveis e verdadeiros. Esse fato requer ênfase, porque há cristãos evangélicos em nossos dias com toda sinceridade, estão preocupados com sua falta de comunicação, mas no ofã de preencher o vácuo tendem a mudar o que deve permanecer inalterado. Se assim procedermos, não mais estaremos comunicando o Cristianismo, e o que final restará não será muito diferente do consenso que nos cerca.

Concluímos, pois, afirmando que o que se diz neste livreto não é uma simples matéria de debate intelectual. É assunto decisivamente crucial para aqueles dentre nós que nutrem o sério propósito de comunicar o evangelho cristão neste século 21.